domingo, 16 de agosto de 2009

Introdução ao estudo do Evangelho de Lucas



Antes de iniciarmos, de fato, os aspectos introdutórios de Lucas, julguei ser interessante relembrarmos um trecho da DEI VERBUM já estudado no GRUDS, mais especificamente na parte que fala da Interpretação da Sagrada Escritura:

“Importa, pois, que o intérprete busque o sentido que o hagiógrafo pretendeu exprimir e de fato exprimiu em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, usando os gêneros literários em voga.”

Se nos ativermos ao Caráter Histórico dos Evangelhos contidos da DEI VERBUM, teremos que:

“...os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo alguns dados dentre os muitos transmitidos de palavra ou por escrito, sintetizando uns, desenvolvendo outros, segundo o estado das várias igrejas, mas de tal forma que sempre nos comunicassem sobre Jesus coisas verdadeiras e sem engano.”

No próprio evangelho de Lucas, objeto de nosso estudo, temos a comprovação que os evangelistas estavam comprometidos com o anúncio da verdade:

Visto que muitos empreenderam a tarefa de contar os fatos que nos aconteceram, tal como transmitiram as primeiras testemunhas oculares, postas a serviço da palavra, também eu pensei, ilustre Teófilo, escrever-te tudo em ordem e exatamente, começando desde o princípio; assim compreenderás com certeza os ensinamentos que recebeste. (Lucas 1, 1-4)

Para iniciarmos, portanto o estudo desse evangelho é necessário que conheçamos o seu autor. Afinal, quem era Lucas?

Lucas era amigo e companheiro de Paulo não somente durante o seu encarceramento em Roma, mas o acompanhou em trechos da segunda e terceira viagens missionárias. Foi considerado o médico amado como retratado em Colossenses:

Saúdam-vos Lucas, o médico amado, e Demas. (Cl, 4;14)

Embora não sejam conhecidas a data e as circunstâncias de sua conversão, Lucas não “presenciou, nem foi ministro da palavra desde o início” (Lc 1;2). Acredita-se que Lucas exercia a profissão de médico em Troas, onde se ligou a Paulo, acompanhando-o até Filipos, no entanto, nesta cidade, não foi preso junto ao seu companheiro. Voltamos a encontrar Lucas na terceira viagem missionária de Paulo a Filipos, é provável que Lucas não tenha saído dali desde a primeira prisão de Paulo, cerca de 8 anos depois que se deu o reencontro, relatado em Atos dos Apóstolos:

Passada a semana dos ázimos , zarpamos de Filipos e, dentro de cinco dias, as alcançamos em Trôade, onde ficamos sete dias. (At, 20,6)

A partir desse momento, Lucas continua com Paulo, e desaparece durante o seu encarceiramento de Paulo em Jerisalém e Cesareia e só reaparece quando Paulo vai para Roma (AT 27;1), até onde o acompanha (At 28;2, 12-16) e onde permanece com ele até ao fim do encarceiramenrto (Fm 1;24, Cl 4;14). A sua última notícia está em 2Tm 4:11.


Vamos ao livro, então:

Embora tenha muitas coisas em comum aos Evangelhos de Marcos e Mateus, a obra lucana é bem diferente:

"O objetivo teológico de cada Evangelho é diferente: Marcos quer mostrar a seus leitores a verdadeira identidade de Jesus como Filho de Deus, o Messias sofredor. Mateus tenta situar a comunidade cristã em relação a Israel: os cristãos são os herdeiros das promessas feitas a Israel que se cumpriram em Cristo. Em Lucas o tema chave parece ser a salvação que Jesus traz ao homem. Ele não é o único a falar da salvação, mas é o único que escolhe esse tema como base da opção de Deus por meio de Jesus." (Material do ITEFE)


As principais diferenças em relação aos sinóticos se dão em 3 principais aspectos:

1° Língua: Como se dirige a leitores pagãos, a língua grega é utilizada melhor que nos demais evangelhos a fim de que a mensagem seja a eles mais acessível, mas não elimina os semitismos tradicionais comuns no AT.

2º Historiador de estilo grego: “Cuidadoso ao consultar suas fontes e apurar os fatos, curtido em viagens especialmente marítimas. Menciona um círculo de testemunhas oculares: depois um grupo de narradores (que poderiam ser os mesmos). Atrás vem ele para recolher e ordenar. Sem deixar de proclamar a fé, quer fazer obra de historiador. Na hora de compor suas cenas, não é puramente grego: depende depende de tradições evangélicas escritas e talvez orais, e segue a grande tradução narrativa hebraica.” (Bíblica do peregrino, 1997).

3º Primeira parte de Ato dos Apóstolos: “Com essa operação, o evangelho passa a ocupar uma posição intermédia, a metade dos tempos: entre o anúncio e preparação do AT, que se estende até o Batista, e o tempo da Igreja, que começa em Pentecostes.” (Bíblica do peregrino, 1997).

Lucas é então considerado teólogo da história da salvação, onde o AT, primeiro momento, é o tempo da promessa e da preparação para a vinda de Cristo e o segundo momento é o cumprimento desta promessa desde o nascimento de Jesus e sua glorificação. Talvez seja por isso que, na genealogia de Jesus, descrita por Lucas, remonta até Adão e Deus:

Ora, Jesus, ao começar o seu ministério, tinha cerca de trinta anos; sendo {como se cuidava} filho de José, filho de Eli; Eli de Matate, Matate de Levi, Levi de Melqui, Melqui de Janai, Janai de José, José de Matatias, Matatias de Amós, Amós de Naum, Naum de Esli, Esli de Nagai, Nagai de Maate, Maate de Matatias, Matatias de Semei, Semei de Joseque, Joseque de Jodá, Jodá de Joanã, Joanã de Resa, Resa de Zorobabel, Zorobabel de Salatiel, Salatiel de Neri, Neri de Melqui, Melqui de Adi, Adi de Cosão, Cosão de Elmodã, Elmodão de Er, Er de Josué, Josué de Eliézer, Eliézer de Jorim, Jorim de Matate, Matate de Levi, Levi de Simeão, Simeão de Judá, Judá de José, José de Jonã, Jonã de Eliaquim, Eliaquim de Meleá, Meleá de Mená, Mená de Matatá, Matatá de Natã, Natã de Davi, Davi de Jessé, Jessé de Obede, Obede de Boaz, Boaz de Salá, Salá de Nasom, Nasom de Aminadabe, Aminadabe de Admim, Admim de Arni, Arni de Esrom, Esrom de Farés, Farés de Judá, Nasom de Aminadabe, Aminadabe de Admim, Admim de Arni, Arni de Esrom, Esrom de Farés, Farés de Judá, Naor de Seruque, Seruque de Ragaú, Ragaú de Faleque, Faleque de Eber, Eber de Salá, Salá de Cainã, Cainã de Arfaxade, Arfaxade de Sem, Sem de Noé, Noé de Lameque, Lameque de Matusalém, Matusalém de Enoque, Enoque de Jarede, Jarede de Maleleel, Maleleel de Cainã, Cainã de Enos, Enos de Sete, Sete de Adão, e Adão de Deus.

Já no Evangelho de Mateus a genealogia é remontada até Abraão, e Paulo em Romanos remonta até Davi. Acredita-se que Lucas queria mostrar que Jesus é também filho da humanidade, o ser humano perfeito. Quer mostrar também que toda a humanidade é também filha de Adão. Para Lucas a ruptura com o judaísmo é fato consumado (Material do ITEFE), ele procurava incluir os seus leitores ( os pagãos) no plano divino de salvação que perpassou o Antigo Testamento, história essa que vai desde o primeiro anúncio de salvação até a morte e ressurreição de Jesus.


Perfil do Evangelho

Quanto à composição:
· Bloco da Infância: correspondências entre Isabel e Maria, João e Jesus (1-2);
· Batismo e tentações (3);
· Ministério na Galiléia (4,16-30). Cenas programáticas: Sinagoga de Nazaré (Jesus se identifica como o cumprimento da profecia, prega aos pagão, e continua seu trajeto mesmo na tentativa de mata-los) e Caminho de Emaús (a chave pascal do cumprimento selada na eucaristia);
· Conclusão: Confissão e anúncio da paixão; transfiguração (9, 18-50);
· Relato da Viagem ascencional: Somente Lucas descreve a ascensão;

Quanto a sua visão particular:
· Jesus de misericórdia e perdão,que acolhe os pagãos, que ajuda os pobres e necessitados, que salienta a figura da mulher num contexto onde a mulher era totalmente desconsiderada pela sociedade.

"Por ter escrito com vistas aos pagãos convertidos ao cristianismo, ele omite particularidades da história que só interessavam aos judeus: as alusões a Lei de Moisés (cf. Mt 5, 21-28), o uso das purificações rituais (Lc 11, 38; Mc 7, 1-23; Mt 15, 1-20). Refere-se com carinho o que era favorável aos gentios (3,14; 7, 2-10; 10, 30-37 o bom samaritano, 17, 11-19 o leproso samaritano). Menciona com solenidade as autoridades romanas (2, 1s; 3,1). Silenciou tudo o que em Mateus e Marcos podia ser penoso para os não judeus, exemplo: Lucas usa a palavra "pecadores" (6, 33), em vez de gentios (Mt 5, 47). "(Material do ITEFE).

O ilustre Teófilo, citado no primeiro capítulo, é um amigo que iniciou o processo de conversão, chamado a fazer parte dos benefiários do plano de salvação mesmo vivendo num mundo de tentações e engano.

Autor e Data
Como o autor tem notícia da destruição de Jerusalém e não tem da perseguição de Domiciano, a data sugerida é das décados de 80 e 90.

O mais mariano dos evangelhos

Ao passo que Mateus centra suas atenções em José, Lucas dá atenção especial á Maria. O Evangelho reconhece, Maria como a santíssima virgem.
O Magnificat, Cap 1, 46-55, faz o mais belo retrato da Mãe de Jesus, como exemplo de humildade, de fidelidade ao Senhor, de ternura e de confiança. Além de tudo, foi relatada como "cheia de graça (1,28), concebeu por obra e graça do Espírito Santo e foi Mãe de Jesus (2,7) sem deixar de ser Virgem (1,34), intimamente unida ao mistério redentor da cruz.(2,35).

Por que estudar Lucas?

Estudar o evangelho de Lucas é para nós uma oportunidade de conhecermos esse Jesus que fez parte de uma grande história de salvação, que foi o ser humano perfeito, que procurou incluir mulheres, pobres, pagãos, e quer também hoje incluir a cada uma um de nós em seu plano de salvação!

domingo, 9 de agosto de 2009

Evangelho de São Lucas


Estudaremos, neste período, o Evangelho de São Lucas. Que Deus nos instrua pela luz do Espírito Santo para que possamos saborear este livro que tem muito para todos nós!